NO REINO DA CIGARRA

17-07-2009 01:23

Silêncio…

Silêncio, silêncio, também não, que a Mata de Pedreanes apresenta um silêncio que é, como direi? Bem… é um silêncio barulhento.

Silêncio barulhento, dirão?

Sim. O espaço é silencioso, porque não é ocupado pelo barulho de carros, buzinas, fábricas, televisões e outros que tais. Nem sequer é perturbado por conversas ou gritos do animal Homem. Mas também é barulhento, porque sobrepondo-se a um ou outro chilrear (muito espaçados diga-se) ouve-se o nosso alegre cantar. Sim porque nós as cigarras, apesar das formigas não gostarem, cantamos em agradecimento ao Sr. Verão.

Somos muitas para tal concerto acontecer.

De repente, muitos passos. Uns curtos, pequenitos. Outros rápidos e pesados. Enfim, de quem quer ser gente. São muitos jovens acompanhados por outros menos jovens.

Por onde passam a caruma range, ramos que cobrem o chão partem-se. A acompanhar estes passos, muita conversa alegre, em vozes ora pequenitas e agudas, ora altas e graves. Logo paramos o nosso cantar e escutamos.

“Laranjas aqui” grita uma voz. Logo outra responde “Verdes aqui comigo”. Uma terceira replica “Azulados, vamos marcar o percurso”. 

Escutamos, sem perceber nada. E vemos uns jovens a carregar “umas coisas” laranja e brancas. Partem e separam-se, seguindo caminhos diferentes. Pouco depois, coisa estranha, começam a nascer cogumelos pela floresta. Bem... Não são arredondados, por isso não devem ser. A cor até podia, mas estes apitam quando lhes põem qualquer coisa em cima. Logo cogumelos não são. Caso arrumado. Mas o que são?

“Já colocamos todas as balizas” dizem os “Azulados”. Balizas? Já ouvi isso em qualquer lado. A minha mãe o ano passado tinha visto outras iguais. Mas não havia jovens, ou melhor havia, mas eram jovens de muita idade.

Pouco depois começam a correr os tais Laranjas e Verdes, com uns papeis coloridos nas mãos. De início todos em fila. E dizem, “vamos seguir um percurso marcado no mapa por esta linha”. Ah, então o tal papel é um mapa! Percebido!

Depois de umas voltas grandes, pegam noutro mapa. Sim já sei o nome. Eu sou cigarra, mas não sou burra. E partem novamente, agora um a um. Chamam-lhe percurso formal, seja lá o que isso é.

Ouvindo melhor, percebo o que faz apitar aquelas coisas alaranjadas que os “Azulados” semearam na minha Mata. São “chips” que marcam o tempo que cada um faz de baliza a baliza.

E eles correm e suam, barafustam e riem-se, mas percebe-se que estão felizes. As carinhas dos mais pequenitos, cansados, sorriem. Divertimento puro!

Já os “Verdes” sorriem, não só pelo prazer, mas também pelo que aprenderam e melhoraram.

Mas enfim. Tudo que começa tem que acabar. Também eles se vão, para outras Matas, outras balizas. Deixam-nos com o nosso silêncio barulhento. Tenho pena, começava a gostar disto.

Até breve…

A Cigarra